A pandemia de Covid-19, e a necessidade do isolamento social, expôs a sociedade a uma condição nova para a maioria das pessoas, que fez aflorar sentimentos como medo, solidão, insônia, depressão e ansiedade. Não por acaso, o país registrou quase 14% de aumento nas vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor no primeiro semestre desse ano, em comparação com o mesmo período do ano passado (CFF/Consultoria IQVIA). Em meio a esse quadro, o Ambulatório de Cuidado Farmacêutico da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem conseguido reduzir significativamente os níveis de depressão e ansiedade dos pacientes atendidos, utilizando-se de ferramentas como o atendimento interprofissional e a teleconsulta.
Em funcionamento há aproximadamente três anos, o ambulatório já atendeu mais de 500 pacientes. No último ano, foram 396, sendo 200 com problemas de saúde mental (50,5%). A maioria tinha entre 22 e 30 anos (42,8%), e apresentava dificuldade de acesso aos serviços de saúde e medicamentos (60,9%). Com o acompanhamentofarmacêutico como apoio ao tratamento médico, esses pacientes tiveram redução significativa nos sinais e sintomas de depressão e ansiedade. A redução média no quarto retorno foi de 9,6 pontos para a depressão e de 17,85 pontos para a ansiedade. A taxa de problemas de saúde consideradas controlados e/ou em remissãoaumentou progressivamente ao longo das consultas,de 4,8 para 7,6.
A coordenadora do projeto Wálleri Reis, aponta que a iniciativa começou timidamente, como atividade de extensão do Departamento de Farmácia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba. O intuito era melhorar a vida da comunidade universitária e moradores das comunidades adjacentes, além de ter um ambiente de prática para os acadêmicos de Farmácia. “Com o tempo o projeto foi crescendo e tomando forma, e atualmente encontra-se em fase de expansão para outros pontos de atenção à saúde”, comemora.
Voltado à gestão de condições crônicas de saúde, o ambulatório conta com protocolos padronizados para o rastreamento e acompanhamento dos principais transtornos mentais, em especial os transtornos de humor. O atendimento inclui serviços clínicos, por meio de consultas farmacêuticas e interprofissionais. Os farmacêuticos são os profissionais da saúde responsáveis pelo acolhimento do paciente, e conduzem a consulta inicial. Instrumentos psicométricos são aplicados periodicamente aos pacientes atendidos, a fim de analisar os sinais e sintomas de depressão e ansiedade e acompanhar a efetividade do tratamento.
Teleconsulta Farmacêutica – na foto, Prof. Dra. Walleri Reis (farmacêutica) e Luan Diniz (extensionista) – Imagem autorizada
Pacientes que não contam com acompanhamento médico em outro serviço de saúde são acompanhados de forma interprofissional, pelo farmacêutico e o médico. “O processo é conduzido de forma colaborativa. O médico faz o diagnóstico, e discute a melhor escolha terapêutica para o paciente com o farmacêutico gestor do caso, umextensionista ou pós-graduando, que atua sob supervisão de outro farmacêutico, professor”, explica Walleri Reis.
A equipe que acompanha o paciente é sempre a mesma, de forma a manter a referência de cuidado e vínculo terapêutico. “Após a primeira consulta, o paciente passa então a ser acompanhado periodicamente pelo farmacêutico gestor, que avalia questões relacionadas a efetividade e segurança do tratamento. Nova consulta interprofissional é agendada de acordo com a necessidade de cada paciente”, comenta a professora.
Teleconsulta Interprofissional – na foto, Prof. Dra. Walleri Reis (farmacêutica) e Prof. Dr. Ernani Vasconcelos (médico) – Imagem autorizada pela paciente
“Os resultados obtidos pelo Ambulatório de Cuidado Farmacêutico da UFPB comprovam que o farmacêutico é um profissional estratégico na assistência à saúde”, comenta o conselheiro federal de Farmácia pelo estado da Paraíba, João Samuel Meira, que é também diretor tesoureiro do Conselho Federal de Farmácia. Sua proximidade e seu vínculo com os usuários dos serviços de saúde, aliada à capilaridade das farmácias comunitárias, favorecem uma atuação efetiva por meio dos serviços clínicos. “Farmacêuticos podem contribuir para o diagnóstico precoce, a otimização da farmacoterapia, a adesão ao tratamento e a melhora em desfechos clínicos, humanísticos e econômicos nessa população”, acrescenta Walleri Reis.
João Samuel Meira, diretor tesoureiro do Conselho Federal de Farmácia e conselheiro federal de Farmácia pela Paraíba
Fonte: Comunicação do CFF