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Indígena investe na profissão farmacêutica para ampliar saberes

por | abr 27, 2021 | DESTACADO

A atuação de farmacêuticos na assistência à saúde dos povos indígenas está regulamentada desde 2017 pela resolução 649 de 28 setembro. A norma busca inserir a profissão na atenção a essa parcela tão importante da população. Porém, no mês em que é comemorado o Dia do Índio, 19 de abril, o Conselho Regional de Farmácia da Paraíba mostra que a recíproca é verdadeira e aproveita para homenagear os indígenas que escolheram a profissão farmacêutica para se dedicar ao cuidado à saúde das pessoas.

Em nosso Estado, pelo menos cinco representantes da etnia Potiguara já atuam na área. Entre eles está Rita de Cassia Santos, farmacêutica indígena Potiguara, da aldeia Caieira, localizada entre os municípios de Baía da Traição e Marcação, no litoral Norte da Paraíba.

Recém-formada, ela relembra o período em que cursou como bolsista em uma faculdade particular na capital. Rita de Cássia precisava se deslocar da sua aldeia todos os dias por 95 km de ônibus. Ela saía todos os dias de casa por volta das 4 horas da tarde para chegar a tempo na faculdade. “Toda noite chegava em casa por volta de meia-noite e tinha que acordar logo cedo no outro dia porque tinha que dar aula na manhã seguinte. ”Foi a forma que encontrei para poder pagar a porcentagem que o financiamento estudantil não cobria. Foram cinco anos nessa luta e consciente das dificuldades que enfrentaria por ser indígena. Costumo dizer que em faculdade pública nós temos pessoas com maior flexibilização em relação a nossa luta, mas em faculdade particular são poucas pessoas que pegam na nossa mão e se solidarizam com a nossa dor”.

Rita de Cássia atuou como professora na educação infantil durante quatro anos para complementar o investimento nos estudos. Mas para ela essa não é uma história triste, mas de grande resistência e orgulho. A indígena relata que o amor pelo conhecimento sobre o potencial das plantas para a cura foi cultivado no seio familiar. A bisavó e a tia tinham uma farmácia viva atrás da casa. “A minha conexão com a Farmácia veio desde quando eu era pequena porque como sempre morei na aldeia e as ouvia dizendo: Tá com dor de ouvido? Coloca folha de arruda! Tá com insônia? Toma um chá de capim-santo. E realmente tinha efeito terapêutico benéfico no outro dia e não precisava ir ao médico. Então eu fui crescendo e vendo essas situações acontecendo e com o que eu chamo de ciência indígena”.

A farmacêutica tem como principal referência a própria mãe, Maria José Fernandes, que tem 22 anos de trabalho no campo da saúde indígena como técnica de enfermagem, hoje enfermeira. As duas iam juntas no mesmo ônibus para a faculdade. Em tempos de pandemia da Covid-19, Rita de Cássia viveu um momento de grande emoção. A própria mãe enfermeira foi quem a vacinou contra a doença. “Eu queria ser como ela, mas não na área dela, mas numa área que eu me identificasse. Foi aí que entrou a farmácia na minha vida. Foi a área da saúde que eu mais me identifiquei por conta das plantas medicinais, desse conhecimento tradicional milenar que já vem não só do meu povo, mas de todo o contexto histórico brasileiro. O cuidado dos indígenas com as plantas e todos os saberes que eles detêm”.

O Conselho Regional de Farmácia da Paraíba se orgulha da história da então farmacêutica Rita de Cassia, assim como de tantos outros que lutam diariamente para alcançar sus objetivos.  Rita é  exemplo d inspiração e gora poder atuar na profissão farmacêutica ajudando à cuidar da saúde da população.

É uma honra para todos nós recebe-la em nossa casa.